sexta-feira, 23 de abril de 2010

Desenhos de Péricles - O Amigo da Onça






Fonte http://memóriaviva.digi.com.br/cruzeiro

Desenhos de Péricles - O Amigo da Onça







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Desenhos de Péricles - O Amigo da Onça




02/04/60

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Foto de Péricles




Fonte-Editora Busca Vida Ltda
Rua Pinheiros 928
São Paulo SP

Amigo da Onça - O Personagem que mobilizou o Brasil

Péricles - Texto Millôr Fernandes

Eu tinha um encontro marcado com Péricles , mas cheguei 48 horas atrasado. Ele nasceu em 14 de agosto de 1924 , eu no dia 16 do mesmo ano . Alem disso viemos bater em locais diferentes , ele no Recife , eu no Rio . Por isso durante 17 anos , não tomamos conhecimento um do outro . Mas continuamos nas paralelas do destino , ele estudando no Colégio Marista do Recife , eu no Colégio Ennes de Souza ( Universidade do Meyer) , ele publicando seus desenhos de menino na revista do colégio ou ganhando o segundo lugar no concurso da primeira semana de transito do Recife , eu publicando meu primeiro desenho de menino em O Jornal , ele ficando orfão aos 8 anos de idade , eu aos 10 . Aos 17 nos encontramos .

Quando Péricles e eu nos encontramos , eu já era um velho jornalista , com quatro anos de atividade, ( minha carteira do trabalhoé de 24 de março de 1938) , secretário da revista A Cigarra , O Guri , e Dectetive( assim com c no meio , à americana ) , do " complexo" . O Cruzeiro , na verdade uma empresinha que seis meninos (Péricles , Davi Nasser, Jean Manzon, Franklin de Oliveira , Fred Chateaubriand e eu ) Transformariamos ( Uma concepção inteiramente nova em matéria de reportagem , fotografias , paginação , e Humorismo ) na revista de maior sucesso de todos os tempos no Brasil- numa população de 45 milhões de habitantes chegou a vender 750 mil exemplares semanais e teve uma edição internacional, em lingua espanhola , que circulava até no sul dos Estados Unidos.

Não me recordo de um Péricles tímido ou , ao contrário , agressivo ou petulante . Era uma pessoa de temperamento , como direi ? , disposto, cuidado no vestir , o cabelo sempre brilhando ( estávamos em plena era da vaselina ), moreno , boa estatura pra nossa geração ( algo em 1,75 m ) , ligeiramente prognata . chegou do Recife trazendo uma carta de Anibal Fernandes , um dos grandes nomes do jornalismo pernambucano ( diretor do Diário de Pernambucano) . Afinal , sem " espaço" para aquele talento- Péricles tinha feito umas Historietas ilustradas , possivelmente reflexo , como todos nós , do assombro diante das histórias em quadrinhos - recomendava-o ao diretor de O Cruzeiro, Leão Godim de Oliveira que, com Acioly Neto , formava o dueto de reacionários que tivemos praticamente derrubar para reformar a revista . Como Leão não sabia o que fazer daquele menino, Péricles teve a sorte de cair nas mãos de Fred Chateaubriand ( jornalista aberto a todas as propostas novas que, por ser sobrinho do mogul Assis Chateaubriand ,tinha grande acesso a decisões ) que dirigia as tais revistas O Guri , Detective e a Cigarra . Ezaminamos com entusiasmo alguns desenhos do garoto e Péricles imediatamente começou a fazer , sozinho , as cenas cariocas e Miriato , o Gostosão . Oliveira , O trapalhão , do qual eu escrevia os versos , o Poste Escrito, ilustrando meus textos . Comigo colaboraria durante 10 anos , Ilustrando o Pif Paf . E sosinho tambem , faria seu personagem definitivo - O Amigo da Onça .

A História da criação é uma história de colaborações , empréstimos , assimilações , superposições , extrapolações . Nós , os chamados criadores , recebemos influencias de todas as fontes . Da vivência infantil , para sempre um tesouro , das leituras , do que vemos , do que nos contam a toda hora , do que tateamos , do que cheiramos , do que degustamos . O Amigo da Onça , essa figura tão intensamente brasileira , a partir do nome , já anteriormente consagrado na famosa anedota ( da qual herdou a filosofia ) , vem no entanto , remotamente , de The enemis of man, da revista americana Esquire , que deu origem ao El enemigo del Hombre , da revista argentina Patoruzu, e chegou ao Péricles , depois de passar pelas mãos de Augusto Rodrigues , o excelente desenhista e, poucos sabem , excelente poeta . Augusto Rodrigues , conto aqui pela primeira vez , foi quem fez os primeiro desenhos do que poderia ser o Amigo da Onça . Mas seu desenho demasiadamente solto , apesar de reconhecida qualidade , não servia ao objetivo. Péricles então , convidado, desenhou a figura com todas as caracteristicas definitivas , o resultado foi aceito com entusiasmo , entusiasmo imediatamente refletido pelo público . Logo o Amigo da Onça se Transformou no tipo mais popular da História do humor brasileiro . Quando Péricles morreu , 18 anos depois , o Amigo já era - sem nenhum exagero retórico - um personagem imortal.

Da mesma idade com interesses profissionais , e na mesma faixa economica e social , nada mais natural que nos tornassemos intensamente amigos . A essa altura eu já era um milionário , Tinha um quarto independente num pequeno edifício da rua das Marrecas( transversal a rua do Passeio ) , rua onde morava tambem o desenhista Alceu Pena ( criador das garotas do Alceu , cujos fundos dos quadrinhos ,eu enchi durante alguns anos )o já citado Augusto Rodrigues , e onde transitava o terrível comunista Jorge Amado .Péricles tambem alugou um quarto independente no meu edifício , e lá fomos nós .Andávamos juntos pelos bares da Cinelandia ( a Cinelândia era o Quente ) , ppaquerávamos juntos as meninas vadias , iamos juntos a praia do Flamengo ( Copacabana era longe ), frequentavamos os botequins do Livramento , disputávamos partidas de sinuca no PCB( Palácio Clube Bilhares) , e terminavamos a noite na Leiteria Bol que, apesar desse nome , era no centro da boemia da Lapa . Essa realção intensa durou poucos anos . Nossos interesses se diversificaram .Mas não tenho lembrança de qualquer desavença entre nós , dessas naturais na vaidades e rivalidades de quem trabalha junto , sobretudo em atividades glorificantes .
Não me recordo sequer de um atrito . A vida nos separou .

Comecei a andar pelo mundo , péricles começou a lutar contra o mundo. Pouco nos viamos dai em diante. A empresa O Cruzeiro , da qual eu já me afastara , tinha se transformado no que equivale a TV Globo de hoje, faturava bilhões ( ainda hoje estão por ai alguns milionários que se locupletaram com o nosso trabalho) e se transformara para Péricles exatamente no cerne desse mundo hostil- nuca teve mesmo para com ele qualquer sentimento de compreensão ou solidariedade . Ao contrário ajudou a esmagá-lo , até mesmo lhe negando a possibilidade de explorar comercialmente a sua criação.A figura do homenzinho macunaimico que satirizava costumes e acontecimentos virou modismo e expressão popular e foi usada em todo o Brasil em parachoques de caminhão , chaveiros , bibelôs , anúncio de Fiado Só Amanhã , brinquedos , camisetas , logotipos, etc..., sem que Péricles ( a essa altura com um salário mediocre ), tirasse qualquer proveito material disso , ah , Xuxa , que sábia você é !

Sentindo-se alienado , Péricles recolhia-se ao mundo mais simples , mais popular(um mundo de pequenos profissionais , um barbeiro, chofer de taxi, nenhum dos antigos amigos , a quem talves não procurasse por pudor ) , onde se sentia mais compreendido e onde , possivelmente , ainda recebia seus melhores estímulos.

Na ultima noite de 1961 , essa noite de passagem-de-ano especialmente dramática para os solitários , ele não resistiu . Deixou sua ultima irrevêrencia num bilhete aparentemente jocoso, mas profundamente amargo, quase grotesco: " Não Acendam Fósforo.'

Texto de Millor Fernandes da publicação O Amigo da Onça .
Editora Busca Vida Ltda
Rua dos Pinheiros 928
São Paulo SP